sábado, 18 de março de 2017

Teste do algodão de pertença ao sistema


Recomendo a leitura da crónica de Alberto Gonçalves, no Observador, de 18-3-2017, «O comentador de "direita": uma profissão de futuro».

Quem são esses comentadores de direita? Críticos q.b., modo português suave, brandinhos. De cócegas, de cócoras, de bruços. Colabos avençados, sempre à cata de um tacho na quinquilharia do socialismo corrupto. Bobos pagos para catarse do fausto do castelo.

Tempo houve em que o teste do algodão, o contract killing, para se abrirem as portas do céu dos média de confiança e depois do poder, era afirmar que acreditavam na inocência de Paulo Pedroso. Agora, é mostrar solidariedade com o «engenheiro» Sócrates pela demora na acusação do maxiprocesso Marquês (28 arguidos até ao momento), uma demora causada pelos próprios envolvidos ao girarem o dinheiro por paraísos fiscais com tradição de dificultar a resposta a cartas rogatórias de autoridades de outros países. Uma espécie de benefício do infrator: o beneficiário do esquema faz circular o dinheiro recebido por vários países fiscais para lavá-lo, apagar o rasto e possibilitar a prescrição com a prevista demora sucessiva dos paraísos fiscais em fornecer informação bancária, além dos recursos e petições que apresenta e que originam adiamentos no processo; e depois quando apanhado (quando é!) queixa-se do suposto suplício a que é sujeito pelo atraso da acusação, quando usufrui da liberdade que o garantismo politicamente correto lhe consente.

O melhor teste de algodão de pertença ao sistema corrupto é chamar «engenheiro» a quem não é, nem nunca foi. Um homem responsável, não apenas pelos milhões alegadamente recebidos, em parte já apurados na operação Marquês, mas pela ruína que provocou à Nação: o suicídio de insolventes, falidos e desempregados, a morte de doentes com cirurgias adiadas por subfinanciamento de hospitais, a dor de doentes sem dinheiro para remédios, a fome de crianças e velhos, as famílias destroçadas pela insuficiência económica, a desistência da universidade de estudantes com pais desempregados, os sonhos evanescidos dos jovens, o sofrimento de um povo sem presente nem, ainda, futuro sofrível.

Não têm vergonha? Nenhuma: são donos do mundo. Proclamam da tribuna dourada: coitadinho do tirano que sofre o horror da lei!

No fim das contas que os sistémicos, de direita e de esquerda, fazem aos ganhos previstos em cada vez que se vendem, as vítimas - abusadas, mortas, doentes, famintas, insolventes, desempregadas, isoladas, ignorantes e miseráveis - da corrupção política não têm o direito à dignidade da justiça, de proteção nem de compensação. Quem tem direito à indignação mediática são os arguidos poderosos da ficção em que virtualmente nos arrastamos.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): as entidades referidas nas notícias dos média, que comento, enquanto arguidas gozam do direito à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de sentença condenatória.

2 comentários:

Anónimo disse...

Post muito certeiro. O sindicato do crime que domina politicamente o país deve ser desmascarado com esta simplicidade.
Toda a comunicação social cativa desta rede mafiosa que roda dezenas de Kumentadores todos alinhados e a simularem diferenças para enganar a populaça boçal.

Anónimo disse...

Para uns o estado de graça acabou http://rr.sapo.pt/noticia/78740/socrates_ladrao_nao_queremos_a_fundacao_protesto_em_coimbra_por_causa_de_contas_antigas e para outros também se está a acabar https://www.facebook.com/groups/1599078853638825/1904856233061084/?notif_t=like&notif_id=1489915285333192