quarta-feira, 28 de maio de 2014

Os jogos da fome




E, de repente, quase tudo mudou.


António Costa admitiu, em 27-5-2014, dois dias depois das eleições europeias - que António José Seguro ganhou por 3,8% de votos a mais do que a coligação PSD-CDS (e mais 86.536 votos do que o PS socratino conseguiu em 2009)  - concorrer para a liderança do Partido Socialista. Disse que seria «imperdoável» se desta vez não fosse candidato, como se lhe tivessem perdoado a cobardia de última hora em 29 de janeiro de 2013. Como um barquinho de carreira, faz que anda mas não anda, numa brincadeira, quiçá, da «costela indiana».

Os dados estão lançados, mas ainda há muito jogo por fazer. Costa, que não tem a mínima vocação executiva, quer ser presidente da República; mas Sócrates e Guterres também

Costa não se sente com brilho nem centelha suficientes para lançar uma candidatura própria, forçando o PS a ir com ele: quer o prémio de ser o candidato oficial socialista à eleição presidencial de janeiro de 2016. E como Guterres sinalizou o seu interesse, em 12-5-2014 em entrevista à Sábado, com «uma probabilidade, mesmo que mínima» e Seguro prefere o ex-primeiro-ministro que entende bonacheirão e mais próximo, Costa avança para garantir ou uma declaração de apoio de Seguro ou a disputa da liderança do PS para conseguir esse propósito. Costa tem 53 anos e ainda pode, creio, concorrer a mais um mandato na CMLisboa, mas teme que o seu tempo passe.

Seguro não quer instabilidade no PS agora que falta pouco mais de um ano para as eleições legislativas de 2015. Mas também sabe que Costa em Belém será sempre um inimigo. Por isso pretende derrotá-lo na Comissão Nacional e na contagem de espingardas das federações distritais, a outra possibilidade de congresso extraordinário e eleições diretas, já que a direção de Seguro não quer fazê-lo.

E Sócrates, com a ajuda da fação ferrosa (com o organizador Vieira da Silva à cabeça) e o aparelho adormecido das operações suaves e das operações negras das informações, que agora será reativado, quer empurrar Costa para a liderança do PS, obrigando-o a ser o candidato a primeiro-ministro, deixando-lhe o caminho livre para que ele próprio, o «animal feroz» arreganhe os dentes para as presidenciais de Janeiro de 2016. De modo que, quer Costa perca a corrida para a liderança do PS, como é mais provável, agora que se movimentam os notávceis para as listas de deputados, quer ganhe essa corrida, não parece possível que seja o candidato presidencial oficial do Partido Socialista à eleição presidencial. E se, ganhando a corrida para secretário-geral do PS, perder as legislativas do verão de 2015, também lhe faltará o entusiasmo popular para substituir um candidato que terá sido designado no início do próximo ano... Costa está assim amarrado ao destino de segundo pela sua cobardia, numa expetativa de obter o primeiro posto por dádiva do líder, que tenta trair - como tentou com Ferro Rodrigues durante a crise dos abusos sexuais de crianças da Casa Pia e se desgraçou perante o País.

Os barões socialistas repartem-se, as famílias dividem-se - como a Soares que joga nos dois tabulerios, com o pai, de um lado, e o filho, do outro - e o conflito durará para além da decisão sobre a liderança. António José chegará ainda mais inseguro às eleições legislativas, com um partido esfrangalhado pela malícia socratina.

E Pedro Passos Coelho, com o seu habitualismo, perante a temática desta mixórdia socialista - de todos contra todos, como no velho jogo do Risco - arrisca-se a ganhar as eleições legislativas de 2015, com que, atendendo aos resultados das eleições europeias de 25-5-2014 (mais do que ao balde de água morna da sondagem da Intercampus/TVI de 26-5-2014), já nem contava sequer, suponho, ser candidato, para evitar o destino socratino. Claro que é muito provável que a esquerda seja largamente maioritária nessas eleições, que o PS fustigado pela esquerda jamais aceitasse uma posição subalterna no executivo sarnoso bloco-centralista, e Passos tenha de partir após um executivo minoritário de curto prazo - se é que não abdica antes das eleições ou declina a indigitação após consultas. E, assim, também quer ganhe ou perca, acabará sempre por perder o poder, mesmo se ganha o pretendido exílio dourado.

E o País, perguntarão os leitores? O País aguenta, porque é do nosso destino aguentar a ganância e a irresponsabilidade das elites incompetentes que, por fraqueza, consentimos. Os jogos da fome do poder deles correspondem à gravidade da nossa miséria.


Atualização: este poste foi atualizado e emendado às 0:20 de 29-5-2014.


* Imagem composta daqui, dali, daí, dacoli e dacolá.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Uma análise sintética dos resultados das eleições europeias de maio de 2014

Tento ma análise sintética dos resultados das eleições europeias de maio de 2014: Divido a análise entre o caso português e o caso europeu´; junto-lhe conclusões de política realista e confesso a previsão.

Os resultados portugueses:
  1. A abstenção de 66,1% expressa a desilusão do povo com a corrupção política, com a iniquidade administrativa.
  2. António José Seguro ganhou, mas por poucos, sem que o resultado lhe permita cantar já vitória futura fácil e ampla. Seguro é agora, para os socialistas, um mal necessário.
  3. Passos Coelho perdeu - e largo. Tentará que a eficiência governativa produza ainda uma alteração do humor dos cidadãos para consigo, mas sabe que isso é quase impossível de reverter. E, portanto, terá de renunciar a novo mandato em Março de 2015 - ou arriscar o destino socratino de exílio, mesmo que farto, e clandestinidade interna.
  4. Paulo Portas também perde, mas relativizará a perda. Se não puder ser comissário europeu, como deseja, e tiver de manter-se à frente do seu CDS de costumes liberais, derivará para um populismo pró-reformados e pê-éne-érrico, para arrancar de novo um score próximo de 10%.
  5. O PC (disfarçado em CDU), com 12,7%, teve o melhor resultado nas eleições europeias desde 1989 (14,4%) - e se entrarmos com os resultados das legislativas teríamos de recuar a 1985, antes da queda do comunismo real na Europa do Leste, para encontramos valor maior (15,5%). O nacionalismo (!...) comunista tem funcionado, o grupo parlamentar foi rejuvenescido e aproveitou-se a inconsistência do bloco depois do abandono cínico de Francisco Louçã.
  6. Marinho e Pinto chegou a um resultado que não se esperava. Mas o cocktail de aborrecimento político - com os abusos da bancocracia e com o delírio de experimentalismo social do PS -, que levou os eleitores a embriagarem-se no seu discurso, tenderá a ressacar numa candidatura presidencial em janeiro de 2016.
  7. O Bloco não morreu, arrasta-se como um condenado. Partido entre dos projetos falidos de poder. Nem Bloco, nem Livre.
Os resultados no resto da Europa:
  1. Vitória de Merkel.
  2. Derrota, nos países do sul da Europa, da direita alinhada com a política germânica, ainda que com fracos resultados da comprometida esquerda institucional - salvo o caso italiano de Renzi.
  3. Subida da extrema direita na parte norte da Europa, mais rica - com relevo para a vitória do Front National na posição pivot da França e a vitória do Ukip da direita anti-União Europeia na Grã-Bretanha - e da extrema esquerda no sul, com relevo para o Syriza, na Grécia, e o anarquista Podemos, em Espanha.

E que conclusões se podem tirar destes resultados? Necessidade de mudança em várias políticas:
  • Mudança na Europa do federalismo político intrusivo, até nos costumes, para a Europa das Pátrias (do general de Gaulle).
  • Mudança da bancocracia para a prioridade à economia.
  • Mudança da fiscalidade do trabalho para o consumo.
  • Mudança da desprezadora remuneração do ócio para o prémio do trabalho.
  • Mudança na política criminal.
  • Mudança na política de imigração com eventual introdução de quotas. e na atual segregação consentida de comunidades imigradas.

Quanto deste programa realista será feito? Quase nada. A previsão é de que a União Europeia caminhará para o desastre, com os países envolvidos na alucinação relativista da esquerda utópica (como os EUA, se não mudarem) e no cinismo financeiro alemão. A ressaca pode até ter uma guerra pelo meio, perante o expansionismo russo - e a projeção chinesa.


Atualização: este poste foi atualizado às 19:25 de 28-5-2014.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Ex-ministra Maria de Lurdes Rodrigues em julgamento




A ex-ministra socialista iscteana Maria de Lurdes Rodrigues começou ontem, 22-5-2014, a ser julgada na 6.ª vara criminal de Lisboa, com outros três arguidos (João Pedroso, Maria Matos Morgado e João da Silva Batista), acusada do crime de prevaricação, por ter alegadamente «contratado ilicitamente João Pedroso – investigador universitário e irmão do ex-dirigente do PS, Paulo Pedroso – para consultor jurídico do ministério da educação, entre 2005 e 2007».

Transcrevo notícias da Lusa e do Público sobre este caso, que foi aqui acompanhado desde o início, com realce para a investigação jornalística de José António Cerejo em 2009, no Público de 14-1-200929-1-2009 e 4-3-2009 - ler também a crónica do poeta Manuel António Pina, no JN de 4-3-2009, citada pelo José da Porta da Loja. O crime de peculato, é previsto e punido, pelo art. 375.º do Código Penal:
«Artigo 375.º 
Peculato 
1 — O funcionário que ilegitimamente se apropriar, em proveito próprio ou de outra pessoa, de dinheiro ou qualquer coisa móvel, pública ou particular, que lhe tenha sido entregue, esteja na sua posse ou lhe seja acessível em razão das suas funções, é punido, é punido com pena de prisão de um a oito anos, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal.»

Dia a notícia da Lusa, de 22-5-2014:
«Ex-ministra justifica contratação de João Pedroso com falta de juristas no Ministério
Por Agência Lusa
publicado em 22 Maio 2014 - 13:03 
Maria de Lurdes Rodrigues garantiu que não conhecia pessoalmente João Pedroso, embora soubesse quem ele era 
A ex-ministra Maria de Lurdes Rodrigues justificou hoje em julgamento a contratação de João Pedroso, irmão do ex-ministro socialista Paulo Pedroso, com a “falta de juristas” no Ministério da Educação.
“Não identifiquei nenhum técnico superior para fazer esse trabalho”, disse Maria de Lurdes Rodrigues ao coletivo de juízes, quando questionada sobre as razões porque não escolheu nenhum jurista daquele ministério para o efeito.
A ex-governante socialista alegou “falta de recursos humanos e de juristas” no Ministério da Educação (ME) e a necessidade de encontrar alguém com um “perfil abrangente” de jurista, investigador e académico para dirigir um grupo de trabalho que ia sintetizar e tornar legível toda a legislação existente no setor.
Maria de Lurdes Rodrigues garantiu que não conhecia pessoalmente João Pedroso, embora soubesse quem ele era (tinha sido chefe de gabinete de António Guterres) e se tivesse cruzado com ele em duas reuniões de trabalho.
“Não o conhecia, embora soubesse quem era”, disse, refutando também a ideia da acusação de que a arguida tinha “afinidades políticas” com os restantes arguidos – Maria Matos Morgado e João da Silva Batista.
Maria de Lurdes Rodrigues revelou em tribunal que o nome de João Pedroso para integrar um grupo de trabalho, do qual também fazia parte António Landeira, foi indicado por Augusto Santos Silva, que já tinha sido ministro da Educação e que “conhecia pessoalmente João Pedroso”.
A ex-ministra confirmou que convocou uma reunião com João Pedroso para discutir o trabalho e perceber se este era “exequível”, mas demonstrou falha de memória relativamente a vários outros pormenores, designadamente relacionados com os honorários da contratação.
“Há muitas coisas que não registamos quando funcionamos em equipas muito abertas. O ministro traça as linhas gerais, mas os pormenores são entregues ao gabinete”, justificou, insistindo que a ideia foi alcançar os “objetivos importantes” que constam do despacho que deu azo à contratação.
Além da ex-ministra, são também arguidos Maria Matos Morgado e João da Silva Batista, à data dos factos chefe de gabinete e secretário-geral do Ministério da Educação, respetivamente, e o advogado João Pedroso. Em causa está a contratação, por ajuste direto, deste último, para exercer tarefas de consultoria jurídica a partir de 30 de janeiro de 2007.
Maria de Lurdes Rodrigues classificou a acusação de "injusta e infundada", em comunicado enviado à lusa a 16 de janeiro de 2012.
Entre as testemunhas indicadas pela defesa de Maria de Lurdes Rodrigues estão os antigos ministros da Educação Roberto Carneiro, Marçal Grilo, David Justino e Augusto Santos Silva.
A acusação sustenta que, pela contratação do irmão de Paulo Pedroso, antigo dirigente do PS, o ministério estipulou o pagamento de 220 mil euros (sem IVA), que João Pedroso receberia em duas prestações de 40 por cento (106.480 euros), uma até 20 de fevereiro e outra até 20 de julho de 2007. Os remanescentes 20 por cento (53.240) seriam pagos até dezembro do mesmo ano.
Para o MP, esta contratação violou o regime da contratação pública para aquisição de bens e serviços, que devia ter sido precedido de concurso público.» (Realce meu)

A notícia do Público, de 22-5-2014, por Ana Henriques, é a seguinte:


«Não é prática dos gabinetes ministeriais recorrer a concursos públicos, alega Maria de Lurdes Rodrigues
Ana Henriques-  22/05/2014 - 13:17 
Ex-ministra da Educação está a ser julgada, mas nega ter beneficiado irmão de Paulo Pedroso 
A antiga ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, que começou a ser julgada nesta quinta-feira por prevaricação de titular de cargo público por ter contratado o advogado João Pedroso por ajuste directo, defendeu em tribunal que não é prática dos gabinetes ministeriais recorrerem a concursos públicos.
O caso remonta ao período entre 2005 e 2008, altura em que a então governante socialista pagou 265 mil euros ao irmão do dirigente do PS Paulo Pedroso para que este levasse a cabo uma compilação da legislação em vigor na altura no sector da educação – tarefa que acabou por não terminar, e na qual foi ajudado por um estagiário do seu escritório e ainda por um filólogo que havia trabalhado no Ministério da Educação. Questionada sobre se não tinha equacionado abrir concurso, respondeu: "Nunca. A prática dos gabinetes não é essa".
Segundo a acusação, a antiga governante violou a lei das duas vezes que celebrou contrato com o advogado, uma vez que os montantes em causa exigiam que obtivesse várias propostas antes de adjudicar o serviço à mais favorável.
Perante os juízes,
Maria de Lurdes Rodrigues alegou que tinha poucos juristas no ministério e que foi um antecessor seu, Augusto Santos Silva, a indicar-lhe Pedroso, pessoa que ela mal conhecia. O facto de o advogado não ter qualquer especialização nas leis da educação não a constrangeu - facto que levou a juíza que preside ao colectivo a perguntar-lhe se a compilação também podia, afinal de contas, ter sido feita por um licenciado em Veterinária. “Provavelmente não”, respondeu. Além da antiga ministra sentam-se no banco dos réus João Pedroso e outros dois arguidos, ambos a trabalhar na altura no Ministério da Educação.
Lurdes Rodrigues não soube explicar de que forma foram calculados os honorários de João Pedroso. Havia muitos assuntos que “lhe passavam ao lado”, admitiu, dada a abrangência das suas funções e o facto de “não ter familiaridade” com o meio educativo quando entrou para o ministério.
"Nunca vivi de favores, agi sempre em defesa do interesse público e nenhuma das minhas decisões foi orientada para beneficiar João Pedroso. A minha vida é do trabalho e não de motivações estranhas, como as que perpassam pela acusação de que sou alvo", fez questão de dizer.
O juiz de instrução criminal que decidiu que iria a julgamento tem, porém, opinião bem diferente: está certo de que a contratação de Pedroso se ficou a dever às afinidades pessoais, profissionais e político-partidárias que os arguidos mantinham entre si. Lurdes Rodrigues era próxima de Paulo Pedroso, que conhecia da vida académica, enquanto a sua chefe de gabinete, agora também arguida, havia trabalhado sob as ordens de João Pedroso no Instituto de Solidariedade e Segurança Social.
A acusação menciona a “total ausência de fiscalização”, por parte da tutela, do cumprimento dos serviços adjudicados. “Nunca tomei a iniciativa de pedir aos serviços um relatório sobre o andamento dos trabalhos”, admitiu a ex-ministra em tribunal.
Este processo surgiu depois de uma notícia do PÚBLICO de 2009 ter dado conta da forma como a governante contratara o antigo chefe de gabinete de Ferro Rodrigues e de António Guterres e de como o seu trabalho se resumia praticamente a meia centena de pastas cheias de fotocópias do Diário da República e de índices dos diplomas fotocopiados.»
(Realce meu).


Limitação de responsabilidade (disclaimer): Maria de Lurdes Rodrigues, João Pedroso, Maria Matos Carvalho e João da Silva Batista, arguidos pelos factos descritos, gozam do direito legal à presunção até ao trãnstito em julgado de eventual sentença condenatória.
As entidades referidas nas notícias que comento não são suspeitas ou arguidas, do comentimento de alguma ilegalidade ou irregularidade, neste caso.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Da saída limpa à liberdade vigiada: o mérito do sacrifício patriótico

Portugal saíu anteontem, 19-5-2014, do regime formal de protetorado onde se encontrava há três anos por ruína e desgraça de desgovernos anteriores.

O Governo PSD-CDS, com todos os seus defeitos sistémicos, tem o mérito da obediência ao programa duro do FMI e da União Europeia e da paciência perante as oposições externas e internas, resultar na saída limpa do programa de resgate financeiro. Mas o mérito principal é do povo que se sacrificou, mais uma vez, no altar de uma Pátria contaminada.

Em qualquer caso, é hora de nos congratularmos pelo sacrifício numa austeridade desigual que poupou políticos enquanto castigava seletivamente o povo. Mesmo o patamar do desemprego e a queda do PIB, necessária ao ajustamento de contas, na contabilidade criativa dos governos de registo móvel das faturas das grandes empresas para, neste caso, glorificar o PIB previamente ao retorno à venda no mercado primário de obrigações do Estado português a dez anos e à «saída limpa» do programa de ajustamento do FMI e União Europeia para um regime de liberdade vigiada.

Os neoprofetas da desgraça jamais se preocuparam com o comezinho problema da liquidez do Estado, enquanto fuçam na manjedoura do Estado. É o povo quem teve, e tem, de arcar com os desvarios das políticas e as utopias ideológicas.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Passismo socratino

«Governo escolhe economista da confiança de Sócrates para liderar CCDRC» (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro),
noticiou o jornalista Miguel Gonçalves, no JN, em 14-5-2014.

Miguel Poiares Maduro, em quem tinha bastante esperança, já deixou de ser ministro. Mas não sabe. E aparentemente também não lhe interessa. Siga o baile da roda.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Observador

Foiu lançado hoje o novo jornal digital «Observador», liderado por José Manuel Ferrnandes e onde pontificam Rui Ramos, Helena Matos e André Azevedo Alves.

Não creio que seja o modelo de jornal da direita moderada cristã, combativo, que aqui defendi - e por aí tentei motivar, desde 2011. Nem na linha editorial, mesmo que transparente, nem no estilo formal ainda próximo do jornal em papel, apesar da utilização do video. Mas poderá constituir uma alternativa ao habitual trotskismo dos média tradicionais existentes em Portugal, se assumir uma posição clara num largo setor social que não tem voz, nem órgão de informação, em vez de se reduzir à neutralidade e à modernidade.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Hearts and wine



«Doll’s boy ‘s asleep
under a stile
he sees eight and twenty
ladies in a line 
the first lady
says to nine ladies
his lips drink water
but his heart drinks wine 
the tenth lady
says to nine ladies
they must chain his foot
for his wrist ‘s too fine 
the nineteenth
says to nine ladies
you take his mouth
for his eyes are mine. 
Doll’s boy ‘s asleep
under the stile
for every mile the feet go
the heart goes nine» 
e. e. cummings (1894-1962)

Ou, de outro modo:
asleep, stile, twenty, line / lady, ladies, water, wine / lady, ladies, foot, fine / nineteenth, ladies, mouth, mine / asleep, stile, go, nine...

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Para além do comunismo burguês

Enquanto por cá, o ionline de 13-5-2014 repuxa um poste de 19-4-2014 no Facebook de Rudolfo Rebelo, assessor económico do primeiro-ministro Passos Coelho, que ataca Mira Amaral e Bagão Félix, como defensores das reformas douradas, nos EUA, o presidente do Conselho de Assessores Económicos (chief-economist) do presidente Obama, Jason Furman mostra o seu desconforto com a análise e as propostas de Thomas Piketty em «Le capital au XXI siècle» (de agosto de 2013), que derrubam as convicções políticas esquerdistas de redenção social através das políticas tradicionais (aumento de despesa em educação, maior proteção laboral, fiscalidade progressiva dos rendimentos e maior assistência social estatal). Taxa global de 2% sobre a riqueza não.

E Furman introduz no silogismo de Piketty um negligenciado fator gerador de desigualdade, para lá dos favorecidos rendimentos de capital da bancocracia: a diferença dos rendimentos do trabalho - uma variável que aos marxistas nunca agradou por causa do incómodo da relação da sua teoria do valor-trabalho com a inaceitável mais valia. Os Pinhões d' «A Bola» e os Fernandos Correias de Saltillo sempre estiveram do lado dos salários milionários dos jogadores como justa compensação do seu trabalho. O neomarxismo aceita bem os rendimentos de trabalho de algumas elites culturais e desportivas - mesmo que se trate da venda de direitos de imagem... - e ignora os rendimentos de capital que geram ou a fuga aos impostos a que os artistas também são atreitos.

A desigualdade financeira dos indivíduos está a crescer porque existe principalmente uma macrodistorção das políticas económicas por efeito misto da bancocracia e do assistencialismo estatal, punindo a economia real e o trabalho.

Na prática, o neomarxismo é um comunismo burguês. A redistribuição do rendimento que pretendem é dos ricos empresários, sim... mas para os instruídos filhos desocupados da alta classe média. Dos pobres-pobres não reza a história da esquerda da moda, anarquista e comunista.

A reforma política necessária é da prioridade à economia real e ao trabalho

A política da doença

Aquece a pré-campanha presidencial norte-americana, com o tema da doença dos candidatos.

Em Portugal, a saúde dos políticos é assunto tabu... para o povo: vale apenas na alta (baixa) política como chantagem subliminal implícita. Em vez da transparência e da responsabilização perante o povo, funciona o encobrimento e a chantagem. O se-não-te-portas-bem-conto foi decisivo na distorção do equilíbrio dos órgãos de soberania do Portugal recente.

O medo e a sua consequência

domingo, 11 de maio de 2014

Isto anda tudo (des)ligado...

Ainda com referência a um novo elo entalado da cadeia alimentar socialista, lembra-me alguém que o dito João, rosado que era, também pertenceu, a partir de 2001, à correia de transmissão da Universidade Independente, onde foi diretor do curso de Arquitetura, na sequência de outro vulto ilustre da instituição que foi o Prof. António José Morais.

José Sócrates e Rui Pereira (cuja desculpa de quinta-feira passada, o José comentou) nomearam o (supremo) doutor arquiteto como «diretor-geral de Infra-Est(r)uturas e Equipamentos do Ministério da Administração Interna», através do Despacho n.º 4484/2011 de 4 de março de 2011 (publicado no Diário da República- 2.ª Série, n.º 51, de 14-3-2014), dezanove dias antes de, em 23-3-2014, o primeiro-ministro se demitir.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, quando arguidas gozam do direito constitucional à presunção de inocência até ao tânsito em julgado de eventual sentença condenatória.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

A decadência dos centros comerciais



Para desenjoar, um linque de Marketing: «Are malls over», na New Yorker, de 11-3-2014. Também em Espanha, está a passar a época dourada dos centros comerciais. Também em Portugal se acentuará esta tendência motivada pela mudança de estilo de vida.

Não significa que os centros comerciais acabem, apenas que a moda está a passar, por motivo das compras pela internet,  dos custos de transportes e da volta do glamour único das lojas de rua.


* Imagem da construção do centro comercial do Palácio Sottomayor, em Lisboa, em 2001.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

O primeiro elo


«io i conti li faccio sempre sul peggio che può venire. Consideriamo dunque che Pizzuco parla: e Mariano è sistemato per le feste. Ad occhio e croce io dico che in questo momento i carabinieri tentano di saldare l'anello di Pizzuco a quello di Mariano; se tiene, i casi sono due: o la catena finisce con Mariano, o Mariano, vecchio com'è, sofferente, comincia a cantare il suo rosario... E in questo caso, mio caro, la catena si allunga si allunga, si allunga tanto che mi ci posso trovare impigliato anch'io, e il ministro, e il padreterno... Un disastro, mio caro, un disastro...»
Sciascia, Leonardo (1961). Il giorno della civetta.

Retornando à inspiração de «O Dia da Coruja» (de Leonardo Sciascia, 1961), livro index(ado), para refletir que a detenção do (supremo) arq. João Alberto Correia (filho do ex-ministro socialista Rosado Correia, e sucessor no cargo nuclear das instalações das esquadras, tempos depois do inesquecível Prof. António José Morais), em 29-4-2014, ordenada pelo juiz Carlos Alexandre, pode ser outro «primo anello» de algo muito, muito, mais vasto.

Lembro que o pai Rosado Correia terá sido entalado em agosto de 1987 com 60 mil contos de coleta para o partido,(alegadamente em águas internacionais, usado como argumento para não haver processo...), por António Vitorino, homem de mão em Macau, do presidente Mário Soares, que não queria aliviar o garrote financeiro ao PS de Constâncio. O sangramento dos líderes socialistas só foi contido quando Sampaio fez o acordo de levar o delfim para número dois da câmara de Lisboa e o partido teve então acesso a outros financiamentos - diz-me um amigo que o dinheiro fresco até deu para pintar a sede do Rato... Mais tarde, a câmara de Soares filho atribuíu ao filho Correia a concessão de um espaço para construir um restaurante no topo do parque Eduardo VII em Lisboa, que este vendeu sem grande demora a uma sociedade na qual pontificavam Júdice pai, João Rendeiro e Américo Amorim.

Tudo em família(s). Mas também por isso.


Nota: peço desculpa aos leitores por não ter traduzir, mas quis preservar a graça e a eufonia da peça.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): João Alberto Correia goza do direito constitucional à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória. As entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são suspeitas ou arguidas do cometimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade nestes casos.

terça-feira, 6 de maio de 2014

A limpeza financeira da sujeira socratina

Passos Coelho anunciou em 4-5-2014, que Portugal recuperará formalmente a soberania limitada face à União Europeia e ao FMI, sem programa cautelar de financiamento, no que se convencionou chamar «saída limpa» do programa de resgate financeiro. Os desconfiados de ontem, António José Seguro e Cavaco Silva, professam agora pressurosos a sua oração de apostolado de algo que sempre criticaram, naquela posição do anão descrente do Gulliver. E Cavaco, que  criticou no Facebook, em 5-5-2014, o seu inseguro profeta da desgraça... Enquanto Sócrates, que esvaziou os cofres do Estado, chamou o socorro da União Europeia e do FMI, em 6 de abril de 2011, e criticou ferozmente as medidas do próprio memorando de austeridade que assinou, se congratula pelo resultado alheio.

O êxito do cumprimento do programa de socorro financeiro e o facto de o Estado dispensar, por enquanto, um novo programa de resgate financeiro, deve-se ao sacrifício sereno do povo, à mudança de política do Banco Central Europeu (por Mario Draghi, que começou a comprar massiçamente dívida dos países aflitos nos mercados seundários) e da União Europeia e ainda pela obediência discreta do Governo às determinações da União Europeia e do FMI. Aqui, não foi, nem é, a austeridade que se criticou, mas a sua iniquidade que castigou uns (trabalhadores do setor público, pensionistas e reformados e trabalhadores do setor privado) e poupou outros (políticos, bancos e banqueiros) - além da política de indulgência dos responsáveis pela corrupção e ruína do país dos governos anteriores.

Passa a troika, mas não passa a austeridade, nem se antevê a correção da iniquidade. Todavia, é altura de desenhar e executar um novo modelo económico e financeiro para o País e para a Europa, que se arrisca a ser de novo, por teimosia sistémica, pasto do marxismo utópico. Mesmo apesar das guerras irredentistas que já sofremos e se hão-de intensificar.

sábado, 3 de maio de 2014

O aluguer da vida

Recomendo o poste de Helena Matos, de 3-5-2014, no Blasfémias, de prevenção à legalização pelo Parlamento português das chamadas «barrigas de aluguer» (politica-corretamente designada por «maternidade de substituição» - sic!). E, a propósito, transcrevo um excerto do comunicado da assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, de 1-5-2014:
«Estando em apreciação na Assembleia da República uma proposta de alteração legislativa no sentido da legalização, em determinadas condições, da maternidade de substituição (vulgarmente conhecida por «barriga de aluguer»), os Bispos não podem deixar de manifestar o seu total desacordo a essa proposta.
A natural aspiração à maternidade e paternidade não pode traduzir-se num pretenso direito ao filho, como se este pudesse ser reduzido a instrumento. A criança nascida de uma mãe contratualmente obrigada a abandoná-la não pode deixar de sofrer com o trauma desse abandono, conhecidos que são, cada vez mais, os laços que se criam entre mãe e filho durante a gestação.
A mãe gestante não pode, também ela, ser instrumentalizada e reduzida a uma incubadora, como se a gravidez não envolvesse profundamente todas as dimensões da sua pessoa e a obrigação de abandono do seu filho não contrariasse o mais forte, natural e espontâneo dos deveres de cuidado. A experiência revela que só o desespero de mulheres gravemente carenciadas as leva a aceitar tão traumatizante prática, sendo ilusório pensar que o fazem de bom grado ou gratuitamente.»
Relativamente a este assunto, está disponível para assinar na net a petição «"Barrigas de aluguer", não!».

quinta-feira, 1 de maio de 2014

A filosofia, e a ciência, de Jorge Jesus

Tal como prometido, há dias num agradável jantar, aqui seguem alguns excertos da conferência do treinador de futebol Jorge Jesus na Faculdade de Motricidade Humana «Teoria e prática no futebol», em 11-3-2013 (transcrição minha).
  • «Sempre tive a minha objetividade em sonhar e ser treinador.
  • Há cinco fundamentos para que um treinador possa ser treinador que, se calhar, a partir de hoje vai ter seguimento...
  • A tua criatividade é que vai definir a tua ideia de jogo. A criatividade... para além de seres uma pessoa imaginária...
  • A criatividade... é a palavra mais importante para ‘podêramos’ ser treinadores.
  • Fui eu que criei estes  fundamentos [criatividade, operacionalizar, liderança, organização e paixão]...
  • Tu, para saberes operacionalizar os teus jogadores...
  • Depois disto vem o quinto fundamento, que sem isto não há objetividade nenhuma (...) que é a paixão.
  • Sem paixão - os jogadores sem paixão, o treinador sem paixão – ‘podes-se-os’ mandar trabalhar de manhã, à tarde e à noite, que o trabalho não fica lá.
  • O sistema não são ‘númaros’.
  • Eu sou de convicções. (...) Eu acho não: eu tenho a certeza que sou convicto.
  • Eu fomento aqueles cinco saberes.
  • Não há nenhum livro que te possa ensinar. O saberes operacionalizar...
  • Aqui a frase (...) e já estamos a falar do Lenine - "A prática é o critério da verdade".
  • A teoria é a reflexão da prática. Eu quando elaboro um treino depois vou para casa teorizar.
  • O 'John' Kruyff.
  • Voltando-nos' ao sistema...
  • Como é 'obvos'...
  • Se há alguém que sabe fazer 'juízos de valores' são os jogadores.
  • A partir daí tu sabes que tens uma equipa. Porque 'acardita' no teu trabalho e 'acardita' em ti.
  • O Benfica ter potencializado muitos jogadores.
  • Estes jogadores tiverem 'chigado' à seleção A.
  • O teu micro-semanal tem de ser em função dos jogos.
  • É claro que o jogador está interligado no modelo do jogo".
  • Nós tivemos o privilégio de 'conseguirmos' que estes jogadores tivessem 'chigado' à seleção A.
  • Quando tu tens um jogo 'ò' domingo.
  • Como é 'óvio.
  • Isto tem como objetivo o jogo que tu jogaste e o jogo que tu vais jogar.
  • Tu tens que moldar uma sabedoria com os treinos.
  • O físico não é uma especificidade separada do treino.
  • O CK, a frequência cardíaca... o jogador estar carregado ou não.
  • Muitas das vezes, os olhos do treinador é que sente, na recuperação do treino, que o jogador está mais cansado ou mais carregado qu'òs outros.
  • Quando tens alguma questão tática para o abordares [ao jogador].
  • Dá impressão 'p'às' pessoas.
  • Tu tens que ir à procura de soluções e de questões.
  • ‘Tava-vos a dar uma ideia.
  • Meteu o jogador a lateral… inventou?!... Mas isto é assim?!... Não se inventa nada!
  • O futebol tem ciência. (...) Mas é a minha ciência.
  • Portanto, eu criei uma ciência. 
  • O Ola John chegou a nós com 19 anos.
  • Na 'Champion'...
  • A estratégia de jogo pode fazer-se de duas maneiras: a individual e a coletiva.
  • O Bayer 'Leverkunson'.
  • Há outra palavra que eu venho a dizer ao longo dos anos (...) que é a bola coberta e a bola descoberta.
  • Uma equipa só está mal fisicamente, se estiver mal taticamente. Corres mais, cansas-te mais.
  • A diferença entre o sistema e a dinâmica.
  • Uma das questões que o 'Fergunson' colocou...
  • Na 'Champians'...
  • Não é como ‘intigamente’.
  • Os clubes portugueses só continuam a 'podêramos' fazer alguma coisa na Europa...
  • Quando eu tenho um clube interessado em mim (...) eu pergunto-lhes a eles: vocês querem um treinador p'à estrutura ou vocês querem um treinador que ele é que pensa a estrutura?»

Filosofia. E ciência. A filosofia, e a ciência, dele.

Porém, à parte, a sua criatividade linguística com a invenção gramatical do pretérito mais-que-imperfeito ('podêramos', 'sêramos', etc.), do acordo ortográfico particular com origem na Reboleira e da sua fonética inglesa lendária, diz algumas verdades profundas, como esta de que «uma equipa só está mal fisicamente, se estiver mal taticamente». Concordo que pode ter dificuldade em explicar a sua tática de desordem - um futebol total improvisado -, mas que isso pouco importa no treino ou no campo.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): Esforço, dedicação, devoção e glória... E sem ofensa ao sportinguista que o atual treinador dos rivais também é, nem aos adeptos adversários.