quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Sócrates e a tortura da mentira

 
 «José Sócrates tenta explicar o inexplicável», revista Sábado, 26-9-2013, p. 26
(fac-simile picado do blogue «O Informador», de Nuno Tiago Pinto, em 26-9-2013, que também enquadra a notícia)


A revista Sábado, de 26-9-2013, de hoje, revela que a sua jornalista Maria Henrique Espada terá telefonado a José Sócrates há cerca de um mês para confirmar se ele estava a escrever uma tese sobre o tema da tortura, como lhe tinham dito. Sócrates negou. E a revista não publicou a informação. Mas essa informação acabou por ser confirmada pelo jornalista António Costa no Económico, de 19-9-2013, no i, de 20-9-2013 (por Rita Tavares/Luís Claro), e pelo diretor do Expresso, António Costa, em 21-9-2013, «Sócrates publica tese de mestrado sobre tortura».

Alguns excertos da resposta que a jornalista da Sábado obteve nessa conversa telefónica, alegadamente ocorrida há um mês, e contada pela jornalista, merecem ficar para a história desses anos de espinhos. E justificam o salto do pdf para o texto corrido. Ora, aí vão mais estas citações imorredouras dessa conversa relatada, e que explicam uma conduta e um personagem:
  1. «Isso não é verdade». «Está equivocada».
  2. «Que interessante, um jornalista a pedir-me explicações, costuma ser ao contrário».
  3. «Eu aproveitei uma imprecisão da sua parte para dizer que não».
  4. «Você disse que a minha tese de mestrado era sobre tortura, e não é, a minha tese não é sobre tortura. É sobre tortura em determinadas circunstâncias, embora, é claro, eu não tenha na altura acrescentado essa informação».
  5. «não quis permitir que amigos meus, ainda que bem intencionados, usem informação que só a mim diz respeito para efeitos de quando deve vir a público. Eu é que decido a quem digo e como o digo.»

Limitação de responsabilidade (disclaimer): José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, objeto desta notícia que resumo, não é aqui acusado de qualquer irregularidade ou ilegalidade neste caso.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O mémoire de Sócrates


«Sócrates publica tese de mestrado sobre tortura», Expresso, 1.ª página, 21-9-2013 (fac-simile)
(clique na imagem para ampliar)




«Sócrates conclui mestrado com tese sobre a tortura», Expresso, p. 5, 23-9-2013,
fac-simile de excertos recompostos
(clique na imagem para ampliar)



O Expresso, de 21-9-2013, com chamada de grande destaque na primeira página («Sócrates publica tese de mestrado sobre tortura»), publica a notícia, na página 5, assinada pelo próprio diretor (!...), «Sócrates conclui mestrado com tese sobre a tortura». Pelo seu interesse relevante ,transcrevo abaixo os excertos principais (além de publicar acima o fac-simile da notícia) e comento o que a notícia traz de novo face àquela do Económico, de 19-9-2013, «Sócrates vai lançar livro em outubro», por António Costa e ainda Mariana Adam, e outra do i, de 20-9-2013. «Sócrates de regresso à política, desta vez em livro», por Rita Tavares e Luís Claro.

Cito a notícia do Expresso, p. 5:
«Foi por isso [pela importância atual do tema da tortura] que José Sócrates escolheu este tema para a sua mémoire (tese de mestrado), que defendeu em julho na Sorbonne, em Paris, e que agora vai publicar em Portugal.
Porquê este tema? "A tortura não é um assunto do passado. É um tema muito discutido hoje em dia. Será que uma boa ação, um bem maior, justifica a tortura? É um dos assuntos mais discutidos na filosofia atual, por exemplo, nos Estados Unidos", explicou ontem [20-9-2013] José Sócrates ao Expresso. "É, no essencial, a tese de mestrado, com pequenas alterações que introduzi ao longo do verão, enquanto a traduzi do francês», acrescenta.
O tema da tese foi escolhido no final do ano passado. «Basicamente, é um ensaio sobre a tortura, quer na dimensão histórica, de filosofia moral e filosofia política", acrescenta o ex-primeiro-ministro ao Expresso. Com a apresentação da tese, José Sócrates concluíu como melhor aluno da variante "Teoria Política" do Master (M1) de Ciência Política na Escola Doutoral do Instituto de Estudos Políticos (IEP) de Paris. José Sócrates inscreveu-se em Sciences Po (como é conhecido o IEP) depois de perder as legislativas de 2011, retirando-se de surpresa para Paris, onde passou estes últimos dois anos. Esteve quase sempre longe da política até ao regresso com uma entrevista à RTP1, a que sucedeu um programa semanal de comentário no Telejornal da RTP todos os domingos. (...)
Um livro de filosofia dificilmente será um livro de grande público. Mas, pelos vistos, não era esse o objetivo de Sócrates, que apenas quer fechar o ciclo iniciado com a ida para Paris em 2001 e concluído com a defesa da tese em julho.»

Comentário
:
  1. A informação do Expresso sobre o livro de José Sócrates foi colhida junto do próprio, que é citado em discurso direto pelo diretor Ricardo Costa.
  2. Como é sabido, Sócrates tem um recorrente problema com a verdade, que se verifica também neste caso.
  3. Ao contrário do que a notícia de Ricardo Costa explicitamente diz, e salvo qualquer informação contraditória, Sócrates não «defendeu em julho na Sorbonne, em Paris» a «sua [sic] mémoire». A Sciences Po - oficialmente Institut d'Études Politiques de Paris - é um grand établissement, uma grande école (como a Normale e a Polytecnhique), um estabelecimento universitário - que não pertence, nem nunca pertenceu, à Sorbonne. Existem os chamados bi-cursus da Sorbonne com a Sciences Po, mas o mestrado de Sócrates em Ciência Política não se inclui nesses cursos. Então, é desnecessário inchar o mestrado da Sciences Po com o estatuto da Universidade da Sorbonne para-português-patego dizer «Oh-la-la»!... Não sei quem será o autor desta invenção e até admito que o auto-informador (Sócrates) não tenha dito tal: mas até agora não vi desmentido no Expresso online (à hora em que escrevo a notícia no sítio do Expresso continua a mencionar que Sócrates «defendeu em julho, na Sorbonne» a sua «tese»), nem consta desmentido do próprio, como deveria. Com efeito, é errado fazer constar ao povo que se produziu um trabalho, e se obteve um título, numa instituição diversa daquela onde foi tirado.
  4. programa de mestrado em «Ciência Política - Menção Teoria Política» da Sciences Po é assim descrito no sítio daquele instituto de estudos políticos:
  5. «Structure du programme
    Le master de science politique, mention théorie politique, se déroule en deux ans et peut se prolonger par la réalisation d'une thèse en trois ans.
    L'ensemble de ces cinq années de formation est appelé parcours doctoral.
    La première année du niveau master est consacrée à l'acquisition des éléments de connaissance fondamentaux ainsi qu'à une première initiation à la recherche. Cette formation repose sur des cours fondamentaux, des séminaires de recherche ainsi que sur un tutorat personnalisé.
    La seconde année du niveau master complète les connaissances premières par des enseignements spécialisés et la poursuite du tutorat afin d'accompagner la préparation du mémoire de recherche qui constitue le point d'arrivée du master et un des éléments principaux d'évaluation de la capacité des étudiants à poursuivre en thèse.
    L'inscription en doctorat est autorisée dans la mesure où toutes les conditions suivantes sont remplies:
    - avoir validé l'ensemble des enseignements de votre programme (M1 et M2),
    - avoir rédigé un mémoire de recherche et obtenu la mention «très bien» (16/20) à l'issue de la soutenance de votre mémoire,
    - avoir rédigé un projet de thèse.»
  6. Portanto, o que José Sócrates pode ter feito é «un mémoire», que em rigor não é uma tese (que está reservada para o doutoramento, conforme se pode ler nesta explicação da Wikipedia francesa sobre o «mémoire universitaire»):
  7. «Le développement du sens universitaire de ce mot se fait au cours du XXe siècle. En effet, l'organisation des études universitaires impose un découpage plus précis, qui crée le niveau de la maîtrise. Le travail d'un étudiant de maîtrise (aujourd'hui Master 1), s'il est une recherche originale, ne peut prendre le nom de thèse car l'étudiant n'invente généralement pas un concept ou une théorie nouvelle à ce niveau. Le terme de mémoire est alors couramment employé, puisqu'il répond bien au sujet: exposer un fait, une recherche, dans un format relativement réduit.
    La poursuite de l'apprentissage du travail de la recherche implique pour les étudiants la rédaction d'un second mémoire, en Master 2 (ancien DEA). Celui-ci est souvent l'étude de faisabilité d'une thèse. Il est, lui aussi, d'un format assez réduit et expose les outils qui permettront éventuellement à l'étudiant de se lancer dans une thèse. Pour un M2 en sciences sociales ou en littérature, le mémoire comprend la description des sources qui vont permettre le futur travail de thèse, la bibliographie nécessaire, l'exposé de la problématique et la réponse dans le thème définie par l'étudiant et un ou deux essais de chapitres rédigés, qui montrent comment la problématique, les sources et la bibliographie peuvent conduire à un véritable travail de recherche originale.
    En revanche, on parle rarement de mémoire de thèse, celui-ci étant trop volumineux, et l'usage veut qu'on qualifie de thèse l'ouvrage en lui-même.»
  8. O «mémoire» que Sócrates fez - e não «tese» como, sem pudor, lhe chama, inflando-lhe o nome e subindo-lhe o peso («assez réduit»...) - constitui o trabalho final do mestrado e, ainda com génese diversa (e menor - o DEA...), equivale agora à dissertação de mestrado do ensino pós-Bolonha. 
  9. Não se pode disputar que tenha sido o «melhor aluno» da menção Teoria Política do mestrado em Ciência Política da Sciences Po. Não se lhe conhece a frequência das aulas, nomeadamente no terceiro e no quarto trimestre do curso, em 2012-2013, quando voltou a Portugal e intensificou a atividade política, e até desde 1-1-2013, quando se alega defensivamente ter passado a desempenhar o cargo de «presidente do conselho consultivo da farmacêutica Octapharma para a América Latina» do seu alegado vizinho Paulo Castro, como nota o José. Não se conhecem as suas notas a cada uma das cadeiras do curso, nem as dos seus colegas. E não se conhece o «mémoire» original, em francês - em Portugal, gostaríamos muito de verificar a correção do francês de Sócrates e notar a evolução tremenda que há-de ter tido ter tido face à sua penosa prestação, em 3-11-2011, na Sciences Po de Poitiers.
  10. Fica a dúvida sobre o «mémoire» que Sócrates terá apresentado na Sciences Po para concluir o mestrado: foi, como era antigamente, um trabalho escrito avaliado por um professor? Ou um trabalho escrito, discutido perante um júri com vários docentes? É que a descrição de Ricardo Costa, com base na presumida informação do próprio Sócrates, diz que este «defendeu», ou seja, numa sessão com perguntas e respostas, e não apenas um trabalho de avaliação solitária por um professor, o que dá antender que assim terá sido. E, no caso de ter sido discutido numa sessão com professores, essa sessão terá sido pública? Vamos crer que sim. Falta saber quando e perante quem.
  11. Por fim, fica-nos a consequência política: a informação de Ricardo Costa de que «Sócrates quer fechar o ciclo iniciado com a ida para Paris em 2011 e concluído com a defesa da tese em julho». Isto é, Sócrates vai deixar o seu projeto académico intercalar - a travessia no deserto - a meio?... Em vez de um doutoramento, Sócrates fica-se pelo mestrado pois, fora de coin qualquer na nova Sciences Po, não arrisca o escrutínio minucioso da apresentação de uma tese-tese perante um júri independente e incisivo como soe, sem a garantia da aclamação do tipo do estudante Vasco Leitão, na Canção de Lisboa, que lhe diminuisse a projeção interna pretendida?...
  12. E, se assim for, desperdiça a oportunidade de acesso a uma universidade norte-americana, eventualmente, ficando doutorado, ao mesmo tempo, por prestigiada universidade francesa e por outra ainda mais prestigiada universidade norte-americana, fazendo um doutoramento conjunto (joint degree) da Sciences Po com a Columbia University do seu amigo (e seu ex-ministro) Manuel Pinho, para o qual a Columbia exige o teste international de inglês IELTS (com nota 7)?... Relembro que, conforme comentei neste blogue, o CM, de 2-9-2013, revelou que Sócrates havia realizado o teste IELTS em 29 de agosto de 2013. Como não acreditei que ousasse a patetice de reescrever a história de Inglês Técnico na Universidade Independente, com a ostentação de um score sofrível, suponho que precisasse desse teste para um projeto semelhante ao que apresento. O que seria mais provável do que a inscrição numa universidade norte-americana com um projeto de raiz e sem a ligação à Sciences Po. Fica a dúvida. Em qualquer caso, Sócrates não consta, nesta data, da relação de alunos doutorandos no Cevipof, Ceri e CEE, em Ciência Política da Sciences Po.
    Por outro lado, a hipótese de uma candidatura à eleição presidencial de janeiro de 2016, com ou sem regresso à liderança socialista, é agora mais viável e faltam pouco mais de dois anos, um prazo que não parece compatível com a exigência dos deveres académicos... A não ser num super-homem académico, o que Sócrates já provou, infelizmente para ele, não ser. Portanto, na dúvida, Sócrates parece tender a preferir a dedicação à política ao gosto de luzir um título académico que soterre as críticas ao seu currículo universitário embaraçante. Um gosto de que nada lhe serviria, com outro presidente, outro primeiro-ministro, no tempo de outros.

Luzes baças e sombras múltiplas. O habitual. José Sócrates.


Atualização: este poste foi remaquetado às 16:35 de 24-9-2013; e emendado às 23:25 de 20-10-2013.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas neste poste, objeto das notícias que comento, não são aqui acusadas de qualquer irregularidade ou ilegalidade.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Notícias do pântano: swaps, Controlinveste e o livro de Sócrates



Novas, e velhas, de três casos do pântano (e da porcaria) do poder, seguidos de comentários breves:
  1. Swaps
    «Direcção dos Arquivos diz que papéis dos swaps não podiam ser destruídos»/«Finanças argumenta que papéis de trabalho não se enquadram na legislação» -  no Público, de 14-9-2013
    «o empréstimo de 150 milhões [das Estradas de Portugal], que tinha um swap associado, teve parecer favorável de Maria Luís Albuquerque» [quando era técnica do IGCP] - António Ribeiro Ferreira no i, de 18-9-2013.
    «Ministra das Finanças deu parecer sobre swap da CP», por Carlos Rodrigues Lima no DN, de 18-9-2013.
  2. O negócio da Controlinveste
  3. «BCP e BES garantem Mosquito e Montez na Controlinveste», no i, de 13-9-2013: «A participação de António Mosquito no capital da Controlinveste foi imposta pelo BCP, o principal credor do grupo, por indicação de Carlos Silva, representante da Sonangol no banco liderado por Nuno Amado, e que respondia directamente a Manuel Vicente, ex-presidente da petrolífera angolana e actual vice-presidente de Angola. Já Luís Montez, dono de várias rádios e empresário de espectáculos, foi uma escolha do BES e do seu presidente Ricardo Salgado, a exemplo do que tinha acontecido na compra do Pavilhão Atlântico. O capital da Controlinveste vai ser repartido por Joaquim Oliveira, actual proprietário, que ficará com 29% do capital, António Mosquito com 27%, BCP com 15%, BES com 15% e Luís Montez, com os restantes 14%» (sublinhado meu).
    «Braço de ferro na Controlinveste», no CM, de 20-9-2013: António Mosquito «recusa ficar com uma participação inferior à de Oliveira, a troco dos mais de 10 milhões que vai injetar na futura sociedade».
  4. O livro de Sócrates
  5. «Sócrates vai lançar livro em outubro», por António Costa e ainda Mariana Adam, no Económico, de 19-9-2013.
    «Sócrates de regresso à política, desta vez em livro», por Rita Tavares e Luís Claro, no i, de 20-9-2013.
Comentários:
  1. O caso da destruição pelo Ministério das Finanças dos papéis de trabalho dos swaps já tinha sido estudado no meu poste de 26 de Agosto de 2013, «Destruição dos papéis de trabalho dos swaps: a portaria e a porcaria». A Portaria n.º 525/2002 não admite essa justificação do Ministério das Finanças. A tentação de eliminação de vestígios de responsabilidade é predominante nos detentores dos documentos e provas embaraçantes, como no caso das chamadas «Nixon tapes». É comum que a aflição dos responsáveis seja tão grande, e a sua convição de poder absoluto tão forte, que destruam as evidências oficiais - mesmo se depois são vulgarmente apanhados pelos mesmos que haviam filtrado o caso para os média e tinham, prudentemente, guardado as provas para as atirar à cara de quem, por burrice, cai na armadilha preparada.
  2. Na Controlinveste, BCP e BES querem aliviar os seus prejuízos com a participação financeira do poder de Luanda (através dos seus homens de palha e dos seus testas-de-ferro), sem perder o controlo sistémico socratino - ainda que Ricardo Salgado já esteja sob fogo interno por causa da sua demasiada exposição mediática ao amigo de Paris e penal (veja-se mais um caso, da offshore Savoices com ligação ao construtor José Guilherme, no Sol, de 20-9-2013). E Luanda não quer pagar a fatura, sem garantir supremacia. Para a charneira do negócio, Ricardo Salgado terá escolhido o Urdangarin de Cavaco Silva - e, com tal padrinho de negócio, não parece haver falta de dinheiro, como também não houve, apesar das dívidas, na compra do Pavilhão Atlântico (leia-se o meu poste «O preço do pavilhão Atlântico», de 1-8-2012).
  3. O livro de Sócrates, anunciado pelo seu fiel António Costa do fiel Grupo Espírito Santo (do qual a Offgoing é uma fachada), é mais um episódio de uma farsa, em três atos: a fuga para Paris, a tentativa frustrada de doutoramento em Ciência Política na Sciences Po e a possível inscrição abrigada noutro em universidade inglesa ou norte-americana. Uma farsa representada sempre por discursos indiretos, com fontes que os jornais não citam, para não se comprometer o «inenarrável» (o cognome que lhe deu o José) com o escrutínio da verdade. Uma farsa que precede a sua candidatura às presidenciais de janeiro de 2016. Porque o tempo aperta, Sócrates pode hesitar em obter o pergaminho do doutoramento sobrenatural numa universidade britânica ou norte-americana de confiança, tal como até há pouco se abrigou no coin parisiense; ou ficar a meio clamando uma negra (que outra cor poderia ter?...) tese de mestrado (quando o programa doutoral em Ciência Política na École Doctorale da Sciences Po, em que oficialmente estava inscrito, só exigia a parte curricular...), publicando um livro (ainda) fantasma, com prefácio do seu amigo Lula e invocando a chamada de uma Pátria que o despreza. Veja-se, a propósito de Lula, o mais recente escândalo que envolve a brasileira Oi, a qual foi comprada em 2011 pela Portugal Telecom após o negócio nebuloso da venda da Vivo.

Enquanto isto ocorre, com indiferença de um povo arruinado e exausto, alarga-se o conhecimento de que o pagamento da dívida do Estado é impossível neste quadro político - e sem quantitative easing da germanizada União Europeia que a reduza artificialmente (como fizeram os japoneses, os norte-americanos e os britânicos). Uma deriva. Apesar da revolução de independêndia do poder judicial e da Igreja, para as quais contribuímos e das quais esperamos legítima e ansiosamente consequência... Todavia, contra a esperança resiliente, nos que ficam, e nos que partem, instala-se a resignação, ou a mágoa, perante a condição de protetorado de um País que tem - ainda - nome de Portugal.


Pós-Texto 1 (2:12 de 21-9-2013): A tortura de Sócrates
A propósito, o Expresso socialista, de 21-9-2013, publica uma notícia sobre o livro do ex-primeiro-ministro, a qual, a uma semana das eleições autárquicas, sistemicamente, chama à primeira página com o maior destaque: «Sócrates publica tese de mestrado sobre tortura». Que tema mais identificativo poderia escolher o arruinador da torturada Nação Portuguesa, cheia de miséria, fome, falências e insolvências, desemprego, despejos, dores, mortes prematuras, famílias sem dinheiro para os jovens estudarem no superior e em êxodo económico-político?...


Pós-Texto 2 (18:41 de 23-9-2013): O programa doutoral da Sciences-Po em 2012-2013 exige a realização de um «mémoire», comparável a uma dissertação de mestrado, mas «curso e incisivo», «assez réduit», para conclusão do mestrado e entrada no doutoramento.


* Imagem picada daqui.


Atualização: este poste foi atualizado e emendado às 2:12 de 21-9-2013 e 18:41 de 23-9-2013.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): Às entidades referidas nas notícias dos média, que comento, não são imputadas neste poste quaisquer ilegalidades ou irregularidades.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

A asa do cântaro

Consta que um ex-primeiro-ministro está a ser investigado judicialmente por factos novos.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Cinzas


«Then loudly cried the bold Sir Bedivere:
'Ah! my Lord Arthur, whither shall I go?
Where shall I hide my forehead and my eyes?
For now I see the true old times are dead,
When every morning brought a noble chance,
And every chance brought out a noble knight.
Such times have been not since the light that led
The holy Elders with the gift of myrrh.
But now the whole Round Table is dissolved
Which was an image of the mighty world,
And I, the last, go forth companionless,
And the days darken round me, and the years,
Among new men, strange faces, other minds.'» 
Tennyson, Alfred (1859-1885). Idylls of the King. vol. The passing of Arthur.

Fez em 30 de agosto o décimo aniversário deste blogue. Passou-me a data, como passa o tempo. Não passaram os companheiros de combate, os comentadores e os leitores. Não passaram os motivos, que continuam atuais. Não passaram os objetivos, que permanecem sempre. Não passou o diagnóstico, mesmo se, com poucos meios, vamos errando, e corrigindo, no processo iterativo da receita, cuja descoberta não é, por si só, suficiente para a cura. Não passaram os adversários, de natureza quase igual os recentes e mais ou menos entocados na penumbra os mais antigos, mas todos coercivos na resposta desenfreada ao avanço tecnológico democrático. Não passou o trabalho nem a luta, ainda que sem confiança numa vitória breve e com consciência da necessidade de reformular a tática política para converter as descrentes gerações mais novas para o imperativo do combate. Passamos, além de todas as ilusões decadentes de glória, apenas nós: linho sequioso em pasto árido, em cinza o que foi chama. E, todavia, profundo - quanto Portugal é! -, ainda arde o rastilho que nos consome, enquanto não inflama de novo os corações justos. Obrigado, porém, a outro ritmo.

Mas se tudo passa, mesmo quando parece que fica, de que importa contar os números (postes, visitas, comentários, linques, feeds), assinalar as batalhas, queixar das perseguições, pesar os sucessos? Tudo isto é o lastro de uma barca humilde, bolinando, frágil e teimosa, contra o vento acre que lhe amargura a história e sujeita afinal ao destino, e ao passo, que Deus comanda.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A desumanidade da distopia eugenista

Com aprovação silenciosa do relativismo, está a aumentar o predomínio da distopia eugenista do aborto seletivo e da seleção de embriões (com destruição dos embriões excedentários) - a par da eutanásia. O aguilhão da morte pica o mundo e parece, por ora, prevalecer, na ilusão do conforto e da segurança.

Veja-se a este propósito crónica «Coining perfection», do padre John J. Conley, na revista America, de 9-9-2013. É um «mundo novo» de desumanidade, que Aldous Huxley antecipara em 1932, com assumidos bebés zero defeitos e mais discretos dolicocéfalos loiros de olhos azul-turquesa. Não é para onde caminhamos: é onde tecnologica e culturalmente chegámos. 

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Nós e o Outro



A lei n.º 43/2013, de 3 de julho, de concessão da nacionalidade portuguesa aos judeus sefarditas 
portugueses (além dos recém-emigrados de Castela, em 1492) que não se converteram ao cristianismo, exilados do País, depois de 1497, na época da Inquisição, aprovada por unanimidade na Assembleia da República -
«O Governo pode conceder a nacionalidade por naturalização, com dispensa dos requisitos previstos nas alíneas b) e c) do n.º 1, aos descendentes de judeus sefarditas portugueses, através da demonstração da tradição de pertença a uma comunidade sefardita de origem portuguesa, com base em requisitos objetivos comprovados de ligação a Portugal, designadamente apelidos, idioma familiar, descendência direta ou colateral.»
-, e louvada pela Time, de 4-9-2013, constitui a reparação de uma injustiça histórica. Louvo-a nesse mérito. Não se prevê nenhum regresso maciço de judeus, quiçá algum interesse na obtenção de passaporte que permite livre-trânsito (e residência) na União Europeia e a expetativa, sem consistência razoável, de significativo investimento decorrente desta oferta. Na verdade, com mais motivação ideológica radical do que factos, existe uma lenda negra relativa à entrada e ao trânsito de judeus no nosso país durante a II Guerrra Mundial, com Portugal sujeito à ameaça nazi, uma versão que se projeta para esconder as deportações, as prisões e as perseguições, ocorridas noutros países europeus: Portugal, apesar desse período, tem uma tradição humana de acolhimento e de convivência que não merece ser depreciada por lendas negras e histórias alvas.

E ainda que Israel, por motivo compreensível, não conceda o mesmo direito de retorno às famílias árabes fugidas das guerras de 1948 e 1967, e que com os descendentes podem chegar a 7 milhões, num país de 8 milhões de residentes (dos quais, 1,65 milhões, ou seja 20%, são árabes). Os judeus não tinham um efetivo populacional no fim do séc. XV, em Portugal, que representassem uma ameaça demográfica, a qual povoa as preocupações dos políticos franceses depois da época de Mitterrand, agora, na era Hollande, com a repressiva «Carta da Laicidade» para as escolas, a qual se insere nas políticas cínicas de redução da visibilidade (como a proibição do véu) dos cerca de 4,7 milhões de islâmicos adultos (além dos menores) num estudo do Pew Research Center, de 2010. A tentação de perseguição e expulsão étnicas é o resultado extremo da demagogia política (e também da ignorância da demografia...), seja em França, no Luxemburgo e na Suíça, na Alemanha e na Áustria, na Grã-Bretanha, nos EUA, em Angola e noutras zonas de África, na Índia e com maior severidade nos países islâmicos do Médio-Oriente, da Ásia e da África do Norte e Central, sempre contra o Outro - e apesar do alerta do Papa Francisco, em Lampedusa, em 8-7-2013.

Todavia, mesmo sem a exigência de «oito ducados de ouro», esta medida do Governo Passos Coelho-Portas surge na sequência da criação dos «vistos dourados» (Despacho n.º 1661-A/2013, de 28 de janeiro), que têm sido predominantemente aproveitados por «chineses, russos e angolanos» e há-de beneficiar o imobiliário de zonas ricas, como acontece nos EUA com os investimentos. O despacho concede autorização de residência concedida a quem deposite e mantenha um saldo médio trimestral de 1 milhão de euros em banco português ou invista 500 mil euros em imóveis ou crie 10 empregos, apenas com a obrigação de prazo mínimo de permanência de «a) 7 dias, seguidos ou interpolados, no 1.º ano; b) 14 dias, seguidos ou interpolados, nos subsequentes períodos de dois anos» (sic). O mesmo tinha feito o governo espanhol - e, em 1990, a administração norte-americana (EB-5 immigrant investor) que no entanto pretende discriminar positivamente zonas de grande desemprego. O Governo anunciou em 5-9-2013, que pretende ampliar esta política com a criação de uma agência de «importação de cérebros» («quadros de empresas, estudantes, investigadores e investidores») para compensar o brain drain que está a esgotar a vitalidade do País.

Além da retórica, a razão é o dinheiro que esses passaportes rendem. À parte este caso, num País com recursos agrícolas e minerais escassos, com indústria depauperada e comércio interno e serviços excedentários, o Estado descobriu esta nova receita da venda de passaportes europeus, que passa a realizar em concorrência com larápios e traficantes. É um complemento da política, que se tenta institucionalizar, de tornar o País um santuário de lavagem de dinheiro sujo.

Cada vez mais dependentes, cada vez com menos esperança, vogamos todavia. Até onde?


* Imagem picada daqui.

O Papa e as divisões de soldados

O Papa pode não ter divisões de soldados, como gozava Stalin em 1935, mas a sua voz tem profunda consequência.

O Nobel da Paz e neo-belicoso Barack Obama queria bombardear a Síria do tirano Assad filho, com a justificação do ataque de gás Sarin, em Goutha, no dia 21-8-2013. Mas, sem apoio internacional de substância e para distribuir a culpa da ação cénica mortífera, pediu autorização ao Congresso (já obteve a do Senado, relutante na forma, descrente da oposição síria, e mediante condições, mas falta a da Câmara dos Representantes). Porém, ficou embaraçado pelo dia de jejum e oração pela paz que o Papa Francisco decretou para o 7 de setembro de 2013. E, sob o pretexto de um premeditado deslize do secretário de Estado Kerry numa conferência de imprensa, em 10-9-2013, e, também ontem, fez marcha-atrás, em entrevistas pré-combinadas, no seu propósito de guerra, aceitando ainda a intermediação... russa. É: a voz do Papa tem mais projeção do que muitas divisões de soldados...


Atualização: Este poste foi emendado às 15:55 de 10-9-2013, devido a chamada de atenção da leitora Joana.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O polvo e o êxodo

Veja-se a entrevista de Rui Cruz do corajoso Tugaleaks «Tiveram de fugir de Portugal por causa da Maçonaria e de José Sócrates», de 7-9-2013, aos autores do Bar do Alcides.

O êxodo de portugueses inconformados com o rumo político do País é uma sangria da Pátria cada vez mais pobre e débil. E não é apenas o exílio de patriotas, que mesmo à distância continuam a luta, mas a fuga de jovens e adultos a um sistema político corrupto que esgana o mérito, bloqueia a iniciativa económica e dificulta a subsistência. Exaurido de sangue, como pode recuperar o corpo?...

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Sócrates prepara nova travessia académica do deserto socialista?

O CM, de 2-9-2013, trouxe uma notícia interessante sobre um alegado exame internacional de inglês (IELTS - International English Language Testing System) realizado pelo ex-primeiro-ministro José Sócrates, em 29 de agosto de 2013, em Lisboa. Transcrevo e comento.
«Prova de José Sócrates
Sócrates faz novo exame de inglês
02 de Setembro, 01h00
Por: Henrique Figueiredo/Hugo Real

Depois de Paris, o futuro de José Sócrates poderá passar por um país de língua inglesa. O CM sabe que o ex-primeiro-ministro realizou, na passada quinta-feira, a prova escrita conhecida como IELTS (International English Language Testing System), exigida a quem queira estudar ou trabalhar em Inglaterra e nos países de língua oficial inglesa. O exame decorreu no Hotel Tiara, em Lisboa, ficando a prova oral marcada para sábado.
Contudo, o ex-primeiro-ministro não apareceu nas instalações do British Council, perto do Príncipe Real, já que, sabe o CM, terá feito os dois exames na quinta-feira.
Vários alunos ouvidos pelo CM, e que não quiseram ser identificados, confirmaram a presença de José Sócrates no local do exame. "Todos nós vimos que José Sócrates estava lá", disse um deles. Os resultados são afixados duas semanas depois do exame. O CM contactou o ex-primeiro-ministro, mas este recusou-se a fazer comentários.
Uma das maiores polémicas do curso de José Sócrates teve que ver com a cadeira de Inglês Técnico, cuja prova oral terá sido feita num restaurante de Lisboa.»
O IELTS é um teste internacional de língua inglesa, que é uma alternativa ao TOEFL, mais popular nos EUA. Este teste de proficiência tem como objetivo avaliar se o examinando tem capacidade de estudar e comunicar em inglês. O IELTS tem duas versões: «Academic» (académica) e «General Training» (formação geral). A versão «Académica - Instituições de Ensino Superior e Educação Avançada» é para «aqueles que querem estudar ou estagiar numa universidade angófona» nas quais a «admissão para estudos de licenciatura e pós-licenciatura» seja baseada nos resultados do teste, podendo ainda ser exigida por quem pretenda entrar numa organização profissional (ex. ordem profissional) num país anglófono. A versão «Formação Geral - para escola, trabalho ou migração», que é mais leve na parte da leitura e da escrita, destina-se àqueles que vão frequentar educação secundária, trabalhar ou estagiar, em países anglófonos (e é requerido pelo Canadá, Austrália e Nova Zelândia».

Vamos lá interpretar esta manobra do ex-primeiro-ministro, que está novamente sobre o holofote mediático após o CM, de 4-9-2013, ter revelado que a polícia (equipa de intervenção rápida) cerca a RTP, aos domingos à noite, para limitar o protesto sistemático contra o programa televisivo semanal, em horário nobre, na estação pública de alguém que conduziu o País à ruína e que liderou um Governo objeto de variadas denúncias de corrupção de Estado.

Não é provável que Sócrates precise desse exame para trabalhar em país anglófono. Recorde-se que, como demonstrei no meu livro «O Dossiê Sócrates», não tem sequer título profissional de engenheiro em Portugal e dificilmente o obteria noutro país com as fracas e polémicas qualificações que obteve nessa área científica sabe-se muito bem como. Por outro lado, uma empresa multinacional que lhe proporcione um cargo de lóbi, administração ou direção, devido aos contactos que possui, experiência política que tem e intermediações que fez, não precisa, nem lhe exigiria, o embaraço desse exame. E ainda menos qualquer organização internacional requereria a um ex-primeiro-ministro a vergonha dessa prova. Nem sequer, pelo mesmo motivo, lhe exigiriam tal para dar aulas em universidade anglófona.

Um outro motivo poderia ser a necessidade de provar ao povo português que, apesar de ter obtido aprovação na cadeira de Inglês Técnico na Universidade Independente da maneira que se sabe, e de todas as malogradas intervenções em inglês em eventos gravados, ele tem um reconhecido nível de proficiência na língua inglesa. Mas isso seria patético a até arriscado, tendo em conta o resultado possível do teste, possivelmente na banda 3/9 «extremely limited user» - muito embora, se a intenção for académica, o score do teste IELTS necessário nas universidades de primeira linha, ser bastante maior...

Portanto, resta o motivo académico. Não posso determinar o que Sócrates fará. Mas podemos colocar legitimamente, enquanto passado e atual personalidade política, três questões.
  1. Correu mal a José Sócrates o seu «Programa de Doutoramento em Ciência Política - Menção Teoria Política» (provavelmente o curso misterioso que Sócrates aí terá frequentado) na Sciences-Po Paris, na difícil nova fase da escola posterior à morte do diretor Richard Descoings, em 3-4-2012, tendo em atenção que não se lhe conhece desempenho em qualquer das cadeiras do programa
  2. Tento em conta que o IELTS, com o resultado válido apenas por dois anos, e como disse mais popular entre instituições académicas da Grã-Bretanha (e Austrália e Nova Zelândia) do que o TOEFL mas que tem sido crescentemente admitido como alternativa nas universidades norte-americanas, quererá Sócrates agora tentar, com outro contacto, um doutoramento numa universidade da Grã-Bretanha ou dos EUA (como a prestigiada Georgetown, onde Durão Barroso chegou a ser «visiting scholar» ou Harvard)? No impresso de inscrição do IELTS tem de indicar o país onde tenciona estudar ou trabalhar.
  3. E, no caso de ser essa a sua intenção, este outro projeto académico em país anglófono, mais abrigado do que na escrutinada Paris, será já uma admissão de que o seu desejo de ser comissário europeu se esfumou na improbabilidade de regresso do PS ao poder antes de outubro de 2014 e na necessidade de outra travessia no deserto socialista até lançar a sua candidatura às eleições presidenciais de 2016?

As questões ficam. E não é por não serem respondidas, como não têm sido respondidas numa personalidade política avessa ao escrutínio, que desparecem ou deixam de suscitar perplexidade.


Limitação de responsabilidade (disclaimer): José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, objeto desta notícia, que comento, não é acusado de qualquer irregularidade ou ilegalidade neste poste.

domingo, 1 de setembro de 2013

A inevitabilidade do segundo socorro financeiro a Portugal

Joaquim Aguiar em comentário na TVI24, em 1-9-2013, ao discurso do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, na «Universidade de Verão», da JSD, em 30-8-2013, sobre a possibilidade de um segundo socorro financeiro pela União Europeia-FMI a Portugal:
«[O segundo resgate] é uma inevitabilidade. Porque jamais conseguiremos estancar o crescimento da dívida, porque ela está interiorizada no nosso dispositivo de dívida de políticas públicas, e nunca mais será possível nem pagar a dívida nem encontrar financiamento para a dívida futura.»
O segundo resgate era, desde o início, uma inevitabilidade, porque nem Passos, nem Portas, estão disponíveis para a verdadeira reforma do Estado que importa fazer, desde logo contra a corrupção. Portanto, aquilo a que assistiremos agora, numa ante-estreia do novo «programa de ajustamento», é ao alijamento de culpas. Escondendo que a culpa atual (deste PSD e deste CDS), porque não querem resolver o problema empolado pelo socratismo, é a continuação da culpa anterior (do socialismo). Portanto, a austeridade desigual manter-se-á por muitos e maus anos. E, sem essa mudança, mesmo a saída da moeda única e o restabelecimento da soberania monetária, mitigada pelos credores, não permitiria a reorganização do Estado e o equilíbrio orçamental.

E a mínima recuperação económica do País, que as empresas a muito custo vêm, a pouco e pouco, conseguindo, com melhoria de produtos e através de exportações, será engolida pelo agravar do esbanjamento em novos negócios de Estado, na sustentação de bancos falidos, no favorecimento dos mesmos lóbis para o embolsamento das mesmas comissões. Um círculo vicioso de corrupção do qual não será possível sair sem uma rutura com esta III República. Então, resta-nos a vida para lá do Estado.